segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Congestionamento de problemas de saúde

O trânsito complicado pode provocar dores musculares, estresse, crises respiratórias. Saiba evitar

 

Foto: null
Trânsito congestionado em uma típica tarde paulistana

A distância de 30 quilômetros foi percorrida em 3horas e 4 minutos. Durante todo o trajeto, em velocidade tartaruga, o médico ortopedista Rubens Rodrigues não apenas lamentou o congestionamento que separava a sua casa do aeroporto como também abria e fechava as mãos, esticava os braços para cima e girava os pés repetidas vezes.

A “coreografia” dentro do veículo é só uma das dicas para evitar os males dos engarrafamentos, que vão além do estresse. Nos últimos 10 anos, segundo os dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) surgiram, em média, 165 mil novos carros. O crescimento da frota na década foi de 103%, bem maior do que o aumento populacional no mesmo período, de 17,1% (mostram os dados do IBGE).
O descompasso entre veículos, pessoas e espaço físico fez com que o problema do trânsito parado deixasse de ser um privilégio só de São Paulo e fosse exportado para as principais capitais do País. Prova disso é uma pesquisa encomendada pelo Ministério do Meio Ambiente que detectou poluição veicular acima dos padrões seguros ditados pela Organização Mundial de Saúde não apenas na atmosfera paulista, como também em Recife, Porto Alegre, Rio de Janeiro e Curitiba.

Dores nas costas


Pela janela do carro você olha, com piedade, as pessoas que se apertam no ônibus, espremidas e em pé. Antes de ter pena, o médico do Instituto de Ortopedia de São Paulo (IOT) faz um alerta.
“Para a coluna, não há mal pior do que o aparente conforto dos automóveis. Ficar sentado por mais de uma hora é o suficiente para desencadear dores lombares e cervicais”, afirma Rubens Rodrigues.
Por isso, durante o trajeto, ele orienta a esticar os braços, como se estivesse se espreguiçando. “Um único percurso por trânsito congestionado é suficiente para provocar um microtrauma nas costas. O acúmulo pode desencadear um problema crônico. Por isso, além de mexer os braços, é importante fazer alongamento ao sair do carro”, orienta o especialista.

Problemas de circulação

Outro impacto imediato é na saúde das pernas, pés e aparelho circulatório. A ausência de movimentos, faz com que o sangue tenha mais dificuldade para percorrer o organismo. As varizes não são as únicas sequelas. Embolias, em casos mais severos, também podem ser um efeito colateral.
O presidente do Sindicato de Taxistas de Porto Alegre, Luiz Nozari, diz que a situação é tão preocupante que na capital gaúcha a entidade já fez parceria com a associação de cirurgiões vasculares para conscientizar sobre o problema.
“Não há nada mais grave do que sair do banco do carro e ir direto para o sofá. Sempre preconizamos o exercício físico após o trânsito e, como cada pessoa tem um limite, a sugestão mais democrática é a caminhada”, sugere Nozari.
Comparar a rotina de um taxista, que fica no trânsito uma média de 12 a 14 horas por dia, com a de uma pessoa que não trabalha na praça não é um exagero. Isso porque, grande parte dos trabalhadores do País, antes de pegar a maratona engarrafada, fica horas sentado em frente ao computador, em um escritório, na sala de aula ou em reunião. Por isso, além de movimentar as pernas e caminhar após o trânsito, uma boa dica é beber muito líquido durante o dia, receita básica para quem quer amenizar os problemas circulatórios.

Dores de cabeça e estresse
Em um congestionamento, não faltam gatilhos para a dor de cabeça, explica Carlos Bordini, presidente da Sociedade Brasileira de Cefaléia.

“Ansiedade por não querer chegar atrasado ao compromisso, raiva por ter de pegar trânsito mais uma vez, poluição e barulho potencializam as crises de enxaqueca e de dores de cabeça”, explica o neurologista.
Segundo o médico, estes fatores não causam a dor de cabeça, mas evidenciam que a pessoa é suscetível à doença. “Neste caso, a ocasião não faz o ladrão mas o revela”, compara. “Como hoje os congestionamentos tornaram-se problemas inevitáveis é importante que a pessoa tenha mecanismos de controle de estresse.
 Cada um tem o seu, mas existem os universais como ioga e meditação”, diz.
Em situações estressantes, afirmam os especialistas, a respiração também é prejudicada, o que influencia a circulação e as dores cabeça. Inspirar e expirar profundamente ajuda a melhorar o quadro. O taxista Luiz Nozari sugere ainda aproveitar a paisagem, que às vezes fica escondida no congestionamento
.
Poluição e problemas respiratórios

Os escapamentos dos automóveis estão a todo vapor do lado de fora. A sensação é de que dentro do carro estaremos mais protegidos dos gases tóxicos. Engano. O Laboratório de Poluição da USP já fez medições com um aparelho especializado, chamado monoxímetro, e constatou que no interior dos veículos a poluição chega a ser 30% maior do que às margens das grandes avenidas de São Paulo.

Fechar os vidros e ligar o ar-condicionado nem sempre é uma boa opção, já que a implicação imediata dos gases em excesso é a debilitação do aparelho respiratório, também prejudicado pela atmosfera resfriada.

“A alta concentração dos poluentes nos centros urbanos associada à baixa umidade leva a irritação e inflamação das mucosas respiratórias e as pessoas já portadoras de doenças respiratórias crônicas (asma, bronquite, rinite) têm maior tendência a apresentar crises”, explica o pneumologista Mauro Gomes, membro da comissão de Infecções Respiratórias da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia em material divulgado pela entidade.
 
A solução neste caso não é simples. Os especialistas orientam que a melhor maneira é optar por outras formas de locomoção antes de priorizar o transporte individual. Ainda que a falta de ônibus, metrô e vans públicas de qualidade pareça incentivar o uso dos automóveis, o excesso de carros que prejudica os pulmões provoca um ciclo de doenças que começam pelo trato respiratório, cardiovascular e até depressivo. Pesquisa do Instituto do Coração (Incor) já mostrou inclusive que a poluição veicular potencializa infartos, acidentes vasculares cerebrais e diabetes.

Fernanda Aranda, iG São Paulo

Nenhum comentário:

Postar um comentário