Dores na coluna, dores no joelho, dores em qualquer articulação. Quem nunca sentiu? Crianças, jovens, adultos, idosos: sem os cuidados necessários, ninguém está livre desses pequenos ou grandes incômodos.
Pesquisas mostram que cerca de 80% da população mundial já apresentou uma ou mais de uma crise de lombalgia, ou seja, problemas na parte mais baixa da coluna, a região lombar. As causas são variadas, mas os maiores números apontam para os problemas mecânico-posturais, isto é, aqueles causados por esforços repetitivos ou por postura incorreta.
É a nossa falta de atenção nas atividades do dia-a-dia que pode se tornar a causa dos nossos problemas futuros. São pequenos cuidados como escolher o colchão e o travesseiro adequados, saber a posição correta para dormir, utilizar tênis apropriados nas atividades físicas, entre outros, que fazem a diferença nos possíveis problemas de coluna.
De acordo com o ortopedista Dr. Rogério Barboza, diretor médico do Hospital Geral do Estado de Alagoas e membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia, medidas simples poderiam evitar boa parte dos problemas de coluna na população.
“Normalmente, os problemas de coluna mais comuns desenvolvem-se numa faixa etária adulto-jovem, entre 20 e 30 anos, mas, atualmente, crianças e adolescentes estão apresentando cada vez mais esses sintomas, principalmente por conta do excesso de peso nas mochilas. Isso quer dizer que, se houvesse um cuidado preventivo, muito sofrimento poderia ser evitado”, explica Dr. Rogério.
“Para adiar certos problemas inevitáveis que devem chegar com a idade por conta do desgaste das articulações, basta que as pessoas mantenham bons hábitos de vida. Elas devem evitar engordar, principalmente na região abdominal, pois essa gordura sobrecarrega as costas; devem praticar atividades físicas para alongamento da coluna e equilíbrio das musculaturas abdominal e paravertebral (músculos que auxiliam na manutenção da postura ereta); devem procurar dormir na posição ‘padrão-ouro’, que é de lado, com um travesseiro de espessura média, que preencha o espaço do pescoço e deixe a coluna ereta, e um outro travesseiro entre as pernas; e se houver necessidade de levantar peso, procurar flexionar o quadril e o joelho, trazer o peso para o tronco e levantar. Para as mulheres, muito cuidado com o tamanho das mamas, que também pode prejudicar a coluna”, continua o médico.
Além da lombalgia, existem outros problemas que podem afetar a população por diversas causas. A hérnia de disco, por exemplo, pode ser causada por diversos traumas na coluna, que levam, com o passar do tempo, a lesões na estrutura do disco intervertebral; ou pode ser causada por um trauma brusco sobre a coluna. Devido às causas variadas, a hérnia de disco pode atingir a pessoas de qualquer idade.
Menos comuns são a estenose do canal vertebral e a espondiloartrose, mais conhecida como “bico de papagaio”. A primeira consiste no estreitamento do canal por onde passa a medula, comprimindo-a e causando dores. A segunda é um processo degenerativo devido à sobrecarga da coluna, que pode ser causada por levantamento de peso diário ou movimento repetitivo de flexo-extensão. A espondiloartrose deve, eventualmente, atingir todas as pessoas um dia, em uma faixa etária entre 60 e 70 anos. Mas, para aqueles que têm o levantamento de peso incorreto como atividade diária, o problema pode surgir aos 35 ou 40 anos.
Além desses problemas, ainda existem a osteoporose, que é mais comum em mulheres e consiste na diminuição substancial da quantidade de massa óssea, resultando em ossos ocos, finos e frágeis; os tumores, bem mais raros e mais difíceis de identificar, já que os sintomas são os mesmos de uma lombalgia; e os processos inflamatórios, que podem surgir em qualquer idade.
Sobre os tratamentos, cada caso em especial precisa de um. São medidas como miorrelaxantes (medicamentos para relaxar a musculatura), antiinflamatórios e analgésicos, aliados à fisioterapia, RPG ou Pilates, que são as mais recomendadas pelos especialistas. O uso de colete, por exemplo, só é recomendado em casos extremos, quando os pacientes apresentam dor aguda e pouco ou nenhum movimento da região. Lembrando que, ao serem constatados os sintomas, os pacientes devem ser encaminhados a um médico antes de iniciar qualquer tratamento.
Isostretshing
Em se tratando de tratamento, a fisioterapia é, hoje, a maior aliada dos médicos ortopedistas. Além dos medicamentos, que proporcionam alívio a curto prazo, a fisioterapia surge como um tratamento a longo prazo, mas que proporciona qualidade de vida através da prevenção e do tratamento das disfunções nos movimentos humanos.
É da fisioterapia que vem o tratamento de coluna Isostretshing, criado pelo francês Redondo, em 2004. O método consiste na soma do exercício resistido isométrico (iso), ou seja, o exercício que envolve uma contração muscular sem a mudança no comprimento do músculo, mais o alongamento (stretshing), mais a respiração com o autocrescimento, isto é, quando o paciente faz o exercício do alongamento da coluna, como se ele quisesse crescer.
“Outras pesquisas já mostram os efeitos isolados do alongamento e dos exercícios resistidos, mas a união dos dois é algo inovador. Se conseguirmos provar a eficiência desse método, vamos mudar a cara da profissão. Não é só o uso do medicamento que é eficaz, é a soma do trabalho reumatológico-ortopédico com a fisioterapia, que é um tratamento gradativo”, afirma Érika.
“Para avaliarmos a evolução do tratamento, utilizamos quatro questionários, que devem ser preenchidos pelos pacientes nas categorias de ‘qualidade de vida’, ‘incapacidade’, ‘dor’ e ‘satisfação’. Todos os pacientes apresentaram melhoras nos quatro indicadores. O isostretshing é um tratamento gradativo, que possibilita a diminuição da dor através do ganho de força muscular e de flexibilidade”, conclui a fisioterapeuta.
Problemas de joelho
Não são só os problemas de coluna que, literalmente, tiram o sono da população. Os problemas de joelho também são mais comuns do que muitos imaginam, e podem ser causados por diversos fatores.
Segundo Dr. Rogério Barboza, os problemas mais comuns são as tendinopatias, ou seja, o processo de comprometimento dos tendões. As tendinopatias podem ser caudadas pela falta de atividade física, fala de alongamento necessário ao praticar esportes, falta de flexibilidade, entre outros.
Além das tendinopatias, existem os problemas no tendão patelar, ou “pata de ganso”, como é popularmente conhecido, que é a parte de dentro do joelho, onde três tendões se encontram, formando uma espécie de pata; e também existem as dores patelo-femurais, que são as condromalácias (entre a patela e o fêmur), que são resultado do comprometimento da cartilagem devido a um desequilíbrio no quadríceps, músculo da coxa.
As outras lesões podem ser entorses, causando problemas no menisco e nos ligamentos, que normalmente acontecem em quedas ou em atletas de fins de semana, desacostumados a exercícios; ou podem ser artroses, que são processos degenerativos da cartilagem, que fazem com que os ossos fiquem sem proteção e se encontrem.
“Cada paciente vai necessitar de um tratamento específico, que pode ir do conservador, que são os antiinflamatórios, analgésicos e a fisioterapia, até o procedimento cirúrgico, dependendo da gravidade do caso”, declara o ortopedista.
As orientações para quem quer evitar possíveis problemas no joelho também são simples: evitar engordar, porque os nossos joelhos sustentam todo nosso peso quando estamos em pé; procurar orientação para os exercícios físicos, já que o excesso de peso nos exercícios também compromete a articulação; e ter cuidado nas atividades cotidianas, como caminhar e correr: deve-se usar tênis com amortecedor, que são apropriados para essas atividades.
De acordo com o fisioterapeuta Aldir de Miranda, os principais exercícios para tratamento dos problemas mais comuns de joelho são os de reequilíbrio dos músculos, alongamento e fortalecimento.
“As tendinopatias são decorrentes de esforço repetitivo. Pequenas rupturas acontecem no dia-a-dia, em qualquer movimento rompe-se uma fibra ou outra, mas elas são regeneradas. Com o esforço repetitivo, não dá tempo de isso acontecer, e a inflamação ocorre. A partir daí, temos que trabalhar a resistência da musculatura”, esclarece Aldir.
Já as lesões de menisco e ligamento exigem, além do trabalho de fortalecimento e reequilíbrio, exercícios de agilidade e propriocepção, ou seja, exercícios para a percepção do posicionamento articular, isto é, quando o paciente precisa reaprender a utilizar corretamente seus músculos.
Artroses, por exemplo, já exigem fortalecimento para que os pacientes tenham mais segurança de caminhar e para amenizar o desgaste da cartilagem; quanto mais fraca a musculatura, mais rápido será o desgaste. Entorses também exigem trabalhos de fortalecimento, para que o paciente aprenda como a articulação se encontra e para que ele saiba usá-la corretamente.
“Se alguém sofre qualquer tipo de lesão, esse alguém vai ter dificuldades em saber do posicionamento da musculatura. Por isso, nós temos que trabalhar o alongamento e o fortalecimento. O fortalecimento na fisioterapia é diferente do da academia, vale ressaltar; os pacientes precisam se informar e saber de suas necessidades”, afirma o fisioterapeuta.
Para finalizar, Aldir de Miranda chama a atenção das mulheres: saltos altos prejudicam, e muito, os joelhos. Usar calçados apropriados é imprescindível para o cuidado com os joelhos, além da atenção com o peso e o jeito de pisar.
“Quando nós, fisioterapeutas, vemos mulheres de salto, nós já vibramos, porque sabemos que vamos ter emprego. Mulher usando salto, apesar de ser bonito, é problema para o futuro na certa”, brinca o especialista.
por Marcela Sampaio
Fonte: Portal da Educação Física
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