O cacau é rico em fitoquímicos fenólicos (polifenóis), especialmente de substâncias conhecidas como flavonóides, que são potentes antioxidantes. Antioxidantes protegem o organismo contra os radicais livres (moléculas muito reativas que são produzidas pela oxidação biológica e danificam vários tecidos). Os compostos antioxidantes estão também presentes em uma série de alimentos que compõem a dieta do mediterrâneo, no vinho tinto e no chá verde. Todos estes alimentos são associados a um menor risco de várias doenças, incluindo diabetes e doença cardíaca.
Nos últimos anos vimos um “boom” de artigos científicos apresentando resultados do efeito do chocolate sobre diversas funções. A maior parte deles conclui que o chocolate produz efeitos benéficos sobre a saúde em geral.
Estas conclusões merecem, porém, uma análise mais cuidadosa, já que, a partir delas, tem sido popularizado que chocolate faz bem, o que pode levar à ingestão de forma indiscriminada.
O principal efeito registrado nos estudos é sobre o sistema cardiovascular. A ingestão de chocolate reduziu pressão arterial, melhorou função endotelial (conjunto de efeitos que melhoram o fluxo sangüíneo das artérias), reduziu colesterol total e o LDL (“colesterol ruim”) e reduziu aterosclerose. Todos estes desfechos contribuem para uma redução do risco de doença cardíaca e de acidente vascular cerebral (derrame, AVC). O principal mecanismo de ação envolvido na redução da pressão arterial é o aumento da concentração de um composto chamado óxido nítrico (produzido pelos flavonóides contidos no cacau), que atua promovendo o relaxamento dos vasos sangüíneos e contribuindo para a redução da pressão.
Além do efeito sobre a pressão arterial, o chocolate aumentou, significativamente, a sensibilidade à insulina, o que reduz o risco de diabete tipo II. A sensibilidade à insulina também é mediada pelo óxido nítrico.
Resultados sugerem, também, que o chocolate reduz a inflamação, e tem efeito anti-troboembólico similar ao efeito da aspirina (reduz a agregação de plaquetas, impedindo a obstrução dos vasos). Temos, então, um conjunto de evidências bastante consistentes de que componentes contidos no chocolate fazem bem à saúde.
E agora, podemos ou devemos ingerir chocolate para prevenir o aparecimento de doenças?
Esta é outra questão. Os efeitos benéficos do chocolate provêm do cacau em sua mistura. O chocolate mais popular que temos no mundo todo é o chocolate ao leite, uma mistura que tem em média somente 11% de derivados do cacau na sua composição. O restante é leite integral, açúcar e diferentes tipos de gordura. Esta baixa proporção faz com que este tipo de chocolate apresente baixo teor de flavonóides. Além disso, o potencial efeito benéfico desses antioxidantes é grandemente reduzido pela adição de leite, que inibe tanto a absorção como o efeito antioxidante do principal grupo flavonóide contido no cacau (epicatequinas). Somado a isso, o leite contém gorduras saturadas que aumentam colesterol.
Outro fator negativo: chocolate ao leite é um alimento altamente calórico, pois sua mistura é composta de grande proporção de carboidratos e gorduras. Os efeitos benéficos dos antioxidantes são anulados pelos efeitos do excesso de açúcar e do aumento de peso. Considerando que 66% do consumo de chocolate se dá no intervalo entre as refeições, o aumento de peso passa a ser um fator que, por si só, contra-indica sua ingestão regular.
Por sua vez, o chocolate amargo possui na sua mistura até 70% dos derivados do cacau (altas concentrações de flavonóides, apresentando o dobro da capacidade antioxidante do chocolate ao leite ), não contém leite e possui uma menor quantidade de açúcar. As principais gorduras presentes no chocolate amargo são, na mesma proporção:a) o ácido oléico, que é uma gordura monoinsaturada e, também, encontrada no óleo de oliva, é saudável pois aumenta o HDL (colesterol bom); b) o ácido esteárico que é uma gordura saturada que não afeta o colesterol total; c) o ácido palmítico, gordura saturada que aumenta o colesterol sendo portanto prejudicial à saúde, porém totalmente compensado pelos efeitos positivos do ácido oléico.
A ingestão de chocolate pode trazer benefícios à saúde nas seguintes condições:
1. desde que seja do tipo amargo (60% -70% de cacau);
2. não contenha leite na sua formulação (também não deve ser ingerido com leite ou derivados);
3. consumido em pequena quantidade (alguns estudos sugerem não mais que 25 g por dia);
4. as calorias ingeridas com o chocolate devem ser suprimidas de outras refeições.
Portanto, preste atenção na etiqueta do seu chocolate amargo predileto, ingira com moderação (de preferência algum tempo após um saudável jantar mediterrâneo, regado a vinho tinto e concluído com uma xícara de chá verde).
Dessa maneira, além do prazer e da nutrição você estará prevenindo doenças e aumentando sua qualidade de vida.
Fonte: Portal da Ed. Física
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