O conhecido esquema gráfico pode confundir as escolhas alimentares. Especialistas propõem outros métodos
Trata-se de um esquema gráfico que separa os vários tipos de alimentos que devem ser ingeridos nas refeições.
Na base estão os alimentos energéticos, ricos em carboidratos (massas, pães, cereais e arroz). Acima estão frutas, verduras e legumes que fornecem vitaminas, minerais e fibras para o corpo. No terceiro degrau da pirâmide estão as fontes de proteínas e minerais (carnes, leguminosas, leite e derivados). No topo, encontramos os alimentos que devem ser consumidos com moderação (doces, açúcares, óleos e gorduras), pois são calóricos e podem levar a obesidade, doenças cardiovasculares, diabetes e outras enfermidades.
“O problema é que muitos alimentos são misturados e esse agrupamento não é preciso. O ponto crucial é que a maioria das pessoas não segue a pirâmide”, diz Bill Cashell, autor do livro Estresse Engorda – Mude Seus Hábitos e Tenha uma Mente e um Corpo Saudável (Editora Agir).
“A divisão dos alimentos na pirâmide é boa”, rebate a nutricionista Ellen Yonobi, da Nutrhouse Alimentos. “Mas sem uma orientação, principalmente sem a definição de quantidade e tamanho das porções, a pirâmide pode induzir a erros”, completa a especialista.
Onde entra a torta de frango?
Essa é uma pergunta que muita gente se faz. “A pirâmide não fala desses alimentos compostos”, lembra a endocrinologista Fernanda Gomes de Melo, do Hospital Bandeirantes, de São Paulo.
Por essas e por outras, o FDA (Food and Drug Administration), órgão governamental dos Estados Unidos que controla alimentos e medicamentos, decidiu que o esquema precisava ser definido com mais clareza. E a pirâmide foi transformada em várias outras.
Até uma versão brasileira foi criada por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), enfatizando inovações como o consumo de carboidratos integrais (ricos em fibras) e o consumo de gorduras saudáveis, de origem vegetal e peixes. Recentemente foram incluídas na base ainda as atividades físicas – que embora não tenham a ver com comida, são indicadas para a manutenção da saúde.
Nova forma
“Mas as pessoas ainda precisam de algo mais fácil e que faça sentido”, defende Cashell. De acordo com o autor, o retângulo alimentar, baseado em uma forma fácil de avaliar a comida, seria um caminho. Basicamente a dieta deveria se encaixar em uma das quatro categorias seguintes:
Alimentos saudáveis: esse grupo contém apenas quatro tipos de alimentos em seu estado natural. São eles: frutas, vegetais, cereais integrais e proteínas magras.
Alimentos com algum valor para a saúde: são, sobretudo, alimentos naturais com um teor mais elevado de gordura natural ou de açúcar natural. Por exemplo: nozes, queijos, sucos de frutas e algumas frutas secas. Os alimentos desse tipo contêm ingredientes importantes, como proteínas, cálcio e vitaminas. Eles também tendem a ter mais calorias. A regra geral aqui é “um pouco é bom, muito não é bom”.
Nenhum valor para a saúde: este grupo é formado por alimentos que não fazem mal, mas também não fazem bem. “Se pudéssemos resumir esta categoria em uma palavra, ela seria ‘processados’. Ela pode ter começado como comida saudável, mas os nutrientes foram eliminados no processamento. Se no rótulo consta ‘enriquecido’, isso simplesmente significa que todas as vitaminas e minerais foram eliminados pelo processamento e que vitaminas sintéticas foram adicionadas ao produto. Seria quase como um comprimido de vitaminas”, explica Bill Cashell.
Para o autor, essa é a categoria que mais tem causado problemas de excesso de peso e de obesidade nos Estados Unidos. “A maioria dos alimentos altamente processados tem pouco valor, possui índice glicêmico alto e aumenta a taxa de açúcar no sangue rapidamente, causando liberação excessiva de insulina. Esses alimentos não saciam e deixam com fome pouco tempo depois, por isso você come mais”.
Alimentos não saudáveis: são aqueles que não têm nenhum valor para saúde e contêm elevado teor de açúcar, gordura, sódio ou substâncias químicas. Se tiverem uma combinação de dois ou mais desses ingredientes, eles são particularmente ruins. Trata-se de alimentos artificiais, com os quais nosso organismo não foi feito para lidar.
Dieta personalizada
Cada pessoa se adapta a um tipo de orientação. Alguns gostam de tudo muito bem detalhado e seguem à risca a dieta proposta pelo nutricionista e pelo médico. Outros preferem ter à mão opções de substituições. “O importante é trabalhar o conceito dos alimentos, orientando sobre o consumo regular dos saudáveis e suas quantidades, mas permitindo uma pequena parcela de extravagância. Afinal, alimentação também envolve prazer”, diz a endocrinologista Fernanda Gomes de Melo.
A nutricionista Ellen Yonobi fala ainda em orientações personalizadas. “Não basta dizer ‘coma alimentos saudáveis’. E não é porque um alimento é saudável que você pode comê-lo à vontade. As necessidades e orientações variam de pessoa para pessoa. É preciso avaliar ritmo de vida, atividades físicas, entre outras coisas, para que não falte energia e para que não se tenha carências nutricionais”, explica.
Ou seja, só olhar para a pirâmide não garante seu bem-estar à mesa. É preciso fazer boas escolhas - mas boas escolhas adequadas a você!
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