Nadar mais tempo, mais Rapidamente e Consumindo menos Energia
por Waldyr Mendes Ramos
Ao observarmos os nadadores masters nas competições constatamos, ao anotarmos seus tempos (passagens e final), que eles parecem desconhecer os ritmos de prova mais adequados à situação. Alguns iniciam com muita velocidade, chegando à fadiga prematuramente e terminando, quase sempre, com extrema dificuldade. Outros poupam-se do início ao fim, terminando com sobras de energia e resultados abaixo da sua expectativa. Há, também, os que alternam ritmos, ora nadando depressa, ora devagar demais. O ritmo que se imprime em uma prova, seja ela curta (50m), média (100m e 200m) ou longa (400m, 800m ou mais), depende, principalmente, das condições do atleta no dia da competição, em relação a sua saúde, seu estado atlético e sua motivação. Outro fator importante na escolha da estratégia da prova é o nível dos adversários que estarão participando.
Os nadadores ao treinar, tendem a se adaptar aos esforços a que são submetidos.. Entretanto, o combustível que corpo utiliza para movimentar-se (ATP -- adenosina trifosfórica) é produzido de maneira diferenciada no organismo. Em esforços de curta duração (20 segundos) este combustível está disponível, nos músculos, em pequena quantidade e pode ser, rapidamente utilizado. Para esforços de maior duração (30 segundos a cerca de dois minutos0 e em grande velocidade o corpo produz o combustível a partir de um composto armazenado nos músculos, conhecido como glicogênio (metabolismo anaeróbico). Infelizmente as reações químicas necessárias para que este combustível seja aproveitado são demoradas, produzem pouca energia e ainda liberam uma substância bastante nociva ao funcionamento dos músculos, o ácido láctico. Quanto mais aumenta a velocidade, maior a produção do ácido, que se espalha pelo espaço intramuscular e provoca a fadiga. Quem não sentiu, ainda, os braços pesados, às vezes com muita dor e a incapacidade de nadar mais rápido, no final de uma prova?
Nas provas mais longas (acima de três minutos), quando o nadador deixa de acelerar, progressivamente, e mantém o mesmo ritmo, a energia é produzida, também, de forma lenta, porém em grandes quantidades (metabolismo aeróbico). Ao nadar dessa forma, o atleta pode manter-se, durante muito tempo, em velocidade moderada através da utilização do glicogênio muscular. Com o prolongamento da atividade o organismo passa a utilizar o glicogênio existente na corrente sangüínea e no fígado para, depois, gradualmente, fazer uso das gorduras. Torna-se importante, portanto, nadar de forma econômica, utilizando-se tanto quanto se possa, durante as provas, o metabolismo aeróbico.
O conceito da natação econômica é considerado, segundo Leonard e outros (1997), um importante fator na preparação de nadadores para as competições. Eles ainda afirmam que esta é uma área farta em conceitos, complexos em sua natureza e de difícil compreensão.
Segundo os autores supra, o que se deseja na preparação de atletas para s situações de prova, é, essencialmente, torná-los capazes de ir o mais longe possível, em condições aeróbicas, sem que necessitem da liberação de energia através do metabolismo anaeróbico, até que estejam próximos do "pique final". Ao se nadar mais depressa utilizando a energia liberada por vias aeróbicas, ter-se-á provavelmente, uma reserva no metabolismo anaeróbico, que poderá ser aproveitada na parte final da prova, com o objetivo de maximizar a velocidade.
Issurin (1997) analisou as estratégias das provas de 100m, de 140 nadadores de nível internacional durante os Jogos Olímpicos de Atlanta. Os dados finais foram compostos por 64 resultados finais extraídos dos relatórios do grupo de pesquisa internacional (Smith D.J. e outros). Competition analyses of swimming events Olympic Games. Men’s events. IOC Subcomission on Biomechanics and Physiology of Sport, Atlanta, 1996) e 76 resultados das eliminatórias, colhidos pelo próprio autor. As conclusões foram muito interessantes, a saber:
"A análise de 100m revelaram um padrão de velocidade predominante, que abrangeu 90,6% das performances, denominada de velocidade decrescente durante toda a prova.
As estratégias das provas de 100m podem ser classificadas, segundo o estudo acima, com base nos padrões de ritmo das braçadas (medidos através de fórmula: ciclos de braços/min., (Maglischo, 1993). As seguintes estratégias foram identificadas:
O ritmo das braçadas diminui no início e aumenta na última passagem da prova;
O ritmo das braçadas diminui durante toda a prova;
O ritmo das braçadas mantém-se irregular com aumentos e diminuições durante a prova;
O ritmo de braçadas aumenta durante toda a prova.
A média dos tempos dos nadadores que utilizaram a estratégia do tipo "A" foi significativamente mais rápida quando comparada com a estratégia do tipo "B", nas provas de nado livre e nado de peito. As performances obtidas através das estratégias "A" e "D" tenderam a ser mais uniformes do que os outros tipos. Em conclusão, a estratégia do tipo "A" parece ser a preferida da maioria dos nadadores das provas de 100m".
Estratégias de Provas de alguns dos Melhores Nadadores Olímpicos
Três dos quatro campeões Olímpicos deram prioridade à estratégia "A", Alexander Popov (RUS), F. Deburghaeve (BEL) e J. Rouse (USA); o melhor nadador dentre os 6 que utilizaram a estratégia "B" foi o campeão Olímpico dos 100m borboleta D. Pankratov (RUS); o melhor competidor dentre aqueles nadadores que adotaram a estratégia "C" for Fernando Sherer (BRA) -- 5° nos 100m nado livre; dois nadadores que utilizaram a estratégia "D" ganharam medalhas de bronze -- J. Linn (USA) e S. Miller (AUS).
A natação econômica é, portanto, um produto de muitos fatores, dentre estes, a habilidade de transporte do oxigênio para os músculos envolvidos na ação e a habilidade dos músculos na transformação do glicogênio em energia ativa.
O transporte dos nutrientes e do oxigênio é uma função que depende:
Da capacidade de bombeamento do coração;
Da capacidade de transporte do sangue; e
Das condições e quantidade de artérias e veias nos músculos.
Um coração forte, uma boa vascularização e sangue com uma alta capacidade de transporte de oxigênio são fatores que contribuem efetivamente para o sistema de transporte. A transformação do glicogênio em energia ativa é determinada pelas características individuais das células musculares envolvidas no trabalho e sua habilidade em transformar os nutrientes e o oxigênio em energia.
Um outro fator determinante na natação econômica, é a habilidade do atleta em usar a energia gerada de maneira produtiva. Isto depende do uso adequado da mecânica dos estilos, saídas e viradas, com o objetivo de reduzir a resistência e aumentar a eficiência da posição do corpo a fim de que ele deslize melhor, na medida em que se move através da água.
Quanto menos energia aplicada em um corpo bem alinhado em relação à água, maiores velocidades serão conseguidas com menor resistência em oposição. Estas relações são fundamentais quando o objetivo é nadar economicamente. A biomecânica desempenha um importante papel na redução das necessidades de energia.
Counsilman, (1994) afirma que "A resistência que um corpo cria na água (ou em outro fluido ou gás) varia, aproximadamente, no valor quadrado da sua velocidade". Ele ilustra este princípio com o seguinte exemplo "Considere um avião voando à velocidade de 300 Km/h e criando uma resistência equivalente a 1000 kg. Quando o avião dobra a velocidade para 600 Km/h, a resistência que lhe afeta não dobra, simplesmente. Tendo em vista que a resistência aumenta em quatro vezes, seu valor passa a ser de 4000 Kg. Se o avião aumenta sua velocidade para 900 Km/h, sua resistência é aumentada em nove vezes".
Este fenômeno ocorre, também, com os nadadores. Se, por exemplo, um nadador aumenta em duas vezes a velocidade de entrada da mão na água, na fase de recuperação do braço, a resistência ao seu deslocamento aumentará em quatro vezes.
Para que se nade de forma mais econômica, torna-se, então, necessário:
Reduzir a resistência (Boa técnica nos estilos).
Melhorar a liberação de oxigênio (consequentemente de energia) nos músculos (treinamento adequado);
Melhorar a habilidade dos músculos na utilização, efetiva, dos nutrientes e do oxigênio (produzir mais energia com menor desperdício).
Assim, pode-se afirmar que quanto mais tempo um atleta mantiver uma velocidade que seja, ao mesmo tempo competitiva e que não utilize as reservas anaeróbicas de energia, melhor desempenho ele poderá ter na sua prova.
Nas provas é importante, portanto, prolongar o consumo de energia, aerobicamente, o maior tempo possível. Isto significa que não se estará acelerando prematuramente, a produção de ácido láctico, elemento que inibe as contrações musculares, e provoca a diminuição da velocidade do nado. Para isto torna-se necessário conhecer os diferentes tipos de treinamentos e suas aplicações, assunto para outros artigos.
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