sábado, 1 de outubro de 2011

Joelho do corredor

O número de indivíduos que praticam a corrida como parte exclusiva e/ou fundamental de um programa de atividade física vem crescendo ano após ano. Isto se deve a alguns fatores principais como:
  • Baixo custo necessário para sua prática (necessidade de poucos equipamentos especiais);
  • Caráter universal, podendo ser praticada por praticamente qualquer indivíduo;
  • Facilidade de locais e horários para seu treinamento;
  • Possibilidade de ser realizada individual ou coletivamente.
Como decorrência deste aumento no número de praticantes observamos, nos últimos anos, um crescimento relativo no número de indivíduos que procuram auxílio nas clínicas especializadas em Medicina do Esporte, seja para o tratamento de alguma lesão ou mesmo para algum tipo de orientação preventiva que possibilite a prática mais segura da corrida.

A corrida, sabidamente, é uma atividade esportiva que, quando praticada corretamente, apresenta baixa incidência de lesões no sistema musculoesquelético quando comparada a outros esportes.
As lesões que mais frequentemente acometem o corredor são as chamadas lesões por “overuse” ou por microtraumas de repetição. As articulações dos quadris, joelhos e tornozelos são frequentemente acometidas nesses atletas. Neste grupo, destacam-se as lesões que acometem a articulação do joelho, tanto por sua frequência como pelo efeito que podem ter sobre o desempenho do corredor.

Durante a corrida, um indivíduo pode realizar (dependendo da intensidade) 500 a 1.600 contatos do pé com o solo a cada quilômetro percorrido. O peso corporal absorvido pelo membro inferior a cada toque do pé no solo é de 1,5 a 6 vezes o peso corpóreo, sendo a articulação do joelho a principal responsável por absorver e dissipar esta energia.

A articulação do joelho é formada pelas articulações tíbio-femoral e femoropatelar. A patela funciona como uma polia que transmite a força gerada pelo quadríceps ao tendão patelar (Figura 1).

Figura 1: A patela funcionando como uma polia transmitindo a força gerada pelo quadríceps ao tendão patelar e a pressão resultante agindo sobre a articulação femoropatelar.


A produção e dissipação da energia ao redor do joelho são realizadas por músculos, tendões, cartilagem, meniscos e ligamentos. Como consequência dos microtraumas de repetição, uma das queixas mais frequentes dos corredores é a dor na região anterior do joelho, acometendo o tendão patelar, o tendão quadricipital, ou mesmo a cartilagem que reveste a patela (condromalácia patelar), o que denominamos de maneira geral como sobrecarga do mecanismo extensor (Figura 1).

Sabe-se hoje que dentre diversos fatores predisponentes ao aparecimento de dor na região anterior do joelho, o encurtamento das cadeias musculares ao redor desta articulação desempenha papel importante.
Assim como força e resistência muscular, a flexibilidade é uma qualidade física que pode e deve ser treinada. A flexibilidade é influenciada por diversos fatores, entre eles o gênero, com as mulheres apresentando melhor flexibilidade que os homens e a idade, com a flexibilidade diminuindo com o envelhecimento. A temperatura é outro fator que influencia a flexibilidade, aumentando com o calor e diminuindo com o frio, assim como as características genéticas, já que existe uma variabilidade individual em relação a esta qualidade física.

Muitas vezes a prática de exercícios específicos para a melhora da flexibilidade (alongamentos) é negligenciada dentro de um programa de treinamento, sendo realizada brevemente antes do início da corrida, fazendo parte de um “aquecimento”. Os exercícios de alongamento, com o objetivo de melhorar a flexibilidade, devem ser preferencialmente realizados em uma sessão exclusiva de treinamento para melhora da flexibilidade ou alternativamente após a corrida.

A literatura médica sugere que a realização de alongamentos após a atividade física pode ter um papel na prevenção de lesões e na diminuição da dor muscular causada pelo esforço físico.

A patela é circundada por um envelope de partes moles formado pelo tendão patelar e quadricipital, e retináculos patelares medial e lateral, este último apresentando íntima relação com o tracto iliotibial (Figura 3). O retesamento destas partes moles ao redor do joelho associado ao treinamento intensivo podem propiciar a ocorrência de lesões nos tendões (tendinopatias) e o aparecimento de processos inflamatórios no tracto iliotibial, a chamada síndrome do tracto iliotibial mais conhecida como “joelho do corredor”.

Figura 2: Envelope muscular ao redor do joelho.


Da mesma forma o encurtamento excessivo do quadríceps e da musculatura flexora do joelho, podem gerar durante a corrida um aumento da pressão exercida sobre a cartilagem patelar e favorecer com isso o aparecimento de lesões da cartilagem de revestimento da patela e/ou tróclea (nome dado à superfície do fêmur com a qual a patela mantém contato). As lesões de cartilagem da patela são conhecidas como “condromalácia patelar”, sendo classificadas frequentemente de grau I a IV de acordo com sua gravidade.
A inclusão de alongamentos ao término das sessões de treinamento podem auxiliar no equilíbrio deste sistema tão elaborado que é nosso mecanismo extensor, e com isso prevenir o aparecimento e a recidiva de quadros dolorosos envolvendo a patela (dor anterior no joelho).

A realização dos exercícios abaixo pode auxiliar na prevenção de lesões na articulação do joelho.
Treinamento de flexibilidade para o joelho:
  • Realizar ao final da sessão de treinamento.
  • 4 séries de 30 segundos em cada posição.

1. Alongamento para o Tracto íliotibial.
2. Alongamento para o quadríceps.
3. Alongamento para a musculatura flexora do joelho.

*Agradecimentos à colaboração da fisioterapeuta Renata Ortiz.

Dr. Caio Oliveira D’Elia
Ortopedista do Instituto Vita
Mestre em Ciências pela USP 
Especialista em Cirurgia do Joelho e em Medicina do Esporte

Gazeta esportiva . net

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