Antônio Marinho (amarinho@oglobo.com.br)
É o que determina, em pouco mais de 15 minutos, um moderno exame computadorizado que mapeia em detalhes a forma de caminhar, algo muito particular de cada indivíduo. Dependendo do tipo de marcha, com a pisada para fora, para dentro ou neutra, as consequências aparecem na coluna vertebral. Antes usado apenas em centros de pesquisa de biomecânica e indústrias de calçados, o teste de baropodometria chegou às clínicas de ortopedia e reumatologia e está ajudando a detectar problemas nos pés e posturais, que se refletem em dores no corpo.
O equipamento tem uma plataforma que lembra uma esteira para caminhada e corrida, que varia de dois a dez metros, sendo ampliada se for necessário. Em sua superfície, sensores registram as diferentes pressões exercidas nos pés com a pessoa parada, caminhando ou correndo. Então, os dados coletados são enviados para a análise computadorizada, e mostram, por exemplo, pressões máximas - quanto mais vermelho, maior a força naquela região - e médias; distribuição de peso entre os pés e estabilidade, entre outros exames.
A análise é tão precisa que informa se o indivíduo está adernando, em milímetros. Parece um detalhe sem importância, mas pequenas diferenças ou desequilíbrio na pisada são responsáveis por aquela incômoda dorzinha crônica de coluna, diz o ortopedista Rodrigo Kaz, do Centro de Reumatologia e Ortopedia Botafogo e da equipe de pesquisa do Departamento de Ortopedia da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos.
- Esse exame é solicitado pelo médico não só para detectar problemas nos pés, que geram dores de coluna, mas para prevenir o problema antes que ele apareça, desde a infância até a terceira idade - comenta Kaz. - Dependendo do formato dos pés, aparecem dores, calosidades, joanetes, encurtamento de tendões, por exemplo.
Durante a caminhada em percursos com desníveis (subidas ou descidas), o pé deve estar totalmente apoiado no chão, para que se tenha total equilíbrio e sustentação do corpo. Na baropodometria, médicos e fisioterapeutas conseguem avaliar não apenas isso, mas as alterações posturais que interferem na mecânica da caminhada e corrida, um esporte que virou febre nas ruas do Rio.
- Para os corredores amadores e profissionais, a baropodometria ajuda muito a melhorar o rendimento. Tem muita gente correndo e se queixando de dores nas costas, nas pernas, no quadril, e acha que a culpa é do tênis, do terreno. Pode até ser, mas, às vezes, o motivo é a forma de pisar; alguma deformidade nos pés, difícil de perceber ao olho nu - comenta Kaz. - Dependendo do caso, a correção é feita com o uso de palmilhas especiais.
Ele lembra ainda que o exame é útil em casos de indivíduos que já sofrem de lesões graves.
- Por exemplo, uma vítima de derrame pode passar a andar de forma desequilibrada e o exame diagnostica o problema. Ele fornece dados, parâmetros, para correção dessa dificuldade - explica Kaz.
Isso é importante porque os pés comportam-se de forma diferente com a pessoa estática, caminhando ou em rápido movimento, lembra o médico Clovis Munhoz, professor de ortopedia e traumatologia da UFRJ e médico do Clube de Regatas Vasco da Gama.
Na opinião de Munhoz, a baropodometria deve ser solicitada para avaliar, por exemplo, o pé plano (não há curvatura, a parte interna do meio do pé faz contato direto com o solo) ou cavo (a curvatura aumentada), diferenças e esporão no calcâneo, inflamação na planta do pé e na canela, tendinites; se uma perna é mais curta do que a outra, artroses e até fraturas por estresse, situação comum em praticantes de atividades física.
- A sola do pé é a primeira parte do corpo que sofre o impacto de uma corrida e, por isso, está suscetível a problemas. O mais comum deles é a fascite plantar, lesão causada pela inflamação da fáscia plantar, estrutura responsável por dar apoio ao arco do pé. A queixa pode acontecer por diversos motivos, mas o mais comum é a sobrecarga - explica o ortopedista.
Um corredor acima do peso, que não calça um tênis adequado, corre o risco de sofrer inflamação nos pés, assim como o atleta, que treina demais e acaba forçando a fáscia plantar, acrescenta Munhoz.
- Quem gosta de se exercitar deve consultar seu médico quanto à necessidade de baropodometria - recomenda o ortopedista.