Introdução
Nas últimas décadas houve um aumento de praticantes de atividades físicas acima dos 25 anos de idade, no mundo, principalmente na modalidade de natação Máster.
Através do Prof. Waldyr M. Ramos que a natação Máster se tornou realidade no Brasil. Assim surgiram campeonatos de incentivos a natação Máster realizados através de Federações Estaduais e pela Confederação Brasileira de Desportos, junto a ABMN.
Contudo, essas competições são de alto rendimento esportivo, impondo sobre o corpo um estresse físico, o que pode levar a manifestação de sintomas de doenças cardiovasculares, que não foram previamente diagnosticadas. Dentre os principais fatores de risco para doença cardiovascular encontram-se o diabetes, a dislipidemia, o histórico familiar, a hipertensão arterial, o sedentarismo, a obesidade (principalmente a obesidade central medida pela circunferência abdominal), o tabagismo(fumo) e o etilismo(uso de bebida alcoólica). Não é um fator de risco direto.
Vários estudos têm demonstrado o impacto de tais fatores de risco sobre os índices de morbidade e mortalidade por doença cardiovascular.
Pode-se observar que os principais fatores de risco são modificáveis por medidas simples de mudanças no estilo de vida, como abandono do sedentarismo através da incorporação de hábitos de atividade física diária e utilização de uma alimentação mais saudável.
Discussão acerca da prevalência dos fatores de risco em atletas Másters
Todo e qualquer tipo de programa de exercícios físicos impõem sobre os diversos sistemas orgânicos um determinado nível de estresse agudo, pois, durante a prática de exercícios físicos ocorre uma ruptura da homeostase do organismo. Tal desequilíbrio das funções orgânicas, em geral, ocorrido durante a prática de exercícios físicos se deve à necessidade do organismo se organizar a fim de suprir a nova demanda metabólica imposta sobre ele.
Dentre os diversos sistemas orgânicos um dos que mais sofrem o impacto dos exercícios físicos é o sistema cardiovascular, uma vez que se apresenta como o responsável pelo fornecimento de maior suprimento sangüíneo à musculatura ativa.
Assim, o exercício físico provoca adaptações benéficas ao sistema cardiovascular as quais funcionam como fator de proteção das estruturas que o compõem. Entretanto, para que tais adaptações ocorram de forma eficiente é necessário programas de treinamento planejados e planificados.
Em agosto 2008 um estudo realizado em Uberlândia objetivou levantar a prevalência de fatores de risco cardiovascular em atletas da natação Máster (“ Prevalência de fatores de risco cardiovasculares em atletas da natação Máster da cidade de Uberlândia,MG”) .
Ao observarmos o gráfico de prevalência de fatores de risco cardiovasculares (Figura 1), fazendo um estudo comparativo entre os gêneros, nota-se que entre as mulheres, a prevalência de fatores de risco predominante foi a circunferência abdominal (CA), seguido pelo índice de massa corporal (IMC), etilismo, histórico familiar e pressão arterial. Um dado relevante, é que a CA encontra-se em um parâmetro elevado dos fatores de risco, estando presente em 94,11% das entrevistadas. Outro fato que chama a atenção, é que 58,82% destas estão com o índice de massa corporal (IMC) acima dos padrões recomendados, tendendo à obesidade. Por sua vez, os homens obtiveram como maior prevalência de fatores de risco cardiovascular a CA encontrando-se presente em 50,00%, seguido pelo etilismo com 44,44%, índice de massa corpórea, histórico familiar, e pressão arterial. Verifica-se que a CA esteve presente como fator de risco predominante, tanto nas mulheres quanto nos homens.
A Figura 2 apresenta a prevalência de quantidade de fator de risco presente por atleta. Nela observa-se que todas as mulheres apresentam pelo menos um dos fatores de risco levantados, ao contrario dos homens onde 11,11% não apresentam fatores de risco. Nota-se também que as mulheres apresentam uma maior associação entre três ou mais fatores de risco 70,58%, enquanto que, por sua vez, os homens obtiveram 22,21% de associação de três ou mais fatores de risco.
Fazendo uma análise de todos os atletas entrevistados sobre prevalência de fatores de rico cardiovasculares, foi verificado que, a circunferência abdominal é o mais relevante atingindo a 71,42%, seguida do índice de massa corpora 45,71%, e pelo etilismo 40,00%. Consta-se que 20,00%, dos atletas podem ser considerados hipertensos. Por sua vez o histórico familiar esteve presente em 31,42% dos atletas Máster. Podemos verificar esses dados de acordo com a Figura 3 abaixo:
Quando nos referindo a prevalência de quantidade de fator de risco presente por atleta, de acordo com a (Figura 4). Foi verificado, que entre os atletas da natação Máster apenas 5,75% não apresentam presença dos fatores de riscos levantados. Em contra partida, 45,71% desses tiveram três ou mais fatores de risco cardiovasculares associados.
Apesar dos dados indicarem que no atleta a incidência de acometimentos cardiovasculares é duas vezes menor que em sedentário, é necessário cercar-se de uma série de precauções, uma vez que tal dado se refere aos atletas profissionais e não aos chamados atletas amadores que muitas das vezes praticam esportes de alta intensidade sem uma estrutura de preparação física prévia que possa levá-los a usufruir dos benefícios do exercício físico.
No estudo feito com nadadores Máster na cidade em Minas Gerais, houve alta prevalência do fator obesidade em ambos os sexos conforme dados de IMC acima do normal demonstrado na figura 1 tanto para mulheres (58,82%) quanto para homens (33,33%). Também deve ser ressaltado como dado relevante a prevalência da obesidade central entre os atletas demonstrada também na figura 1 através de 94,11% das mulheres e 50% dos homens apresentarem circunferência abdominal acima dos limites aceitáveis pela Organização Mundial de Saúde. Tal fato foi alarmante, uma vez que, se trata de uma população, teoricamente, de atletas. Também se deve destacar a maior prevalência de obesidade abdominal na população feminina estudada em relação à masculina que é contrário a literatura clássica, tal contradição provavelmente se deve ao fato de que a população feminina deste estudo apresenta-se com uma faixa etária maior que a masculina.
Os dados ficam mais preocupantes, quando analisamos a figura 2, a qual nos demonstra 70,58% das mulheres com três ou mais fatores de risco para doença cardiovascular, enquanto que entre os homens a associação de três ou mais fatores foi de 22,21%. Acreditamos que tal discrepância encontrada entre os resultados dos dois gêneros, é pelo fato da variação entre as idades, visto que, a média da idade das mulheres é de 6,67 anos superior que a dos homens.
Quando analisados ambos os gêneros em conjunto (Figura 3), fica claro que os atletas da natação Máster apresentaram como principal fator de risco para doenças cardiovasculares a CA (71,42%), seguido do IMC (45,71%), etilismo (40,00%), hereditariedade (31,42%) e hipertensão (20,00%). Tal fato reflete um perfil diferenciado de outros atletas amadores estudados anteriormente por Campos, Gonçalves e Furlanetto Júnior, Gonçalves. Nestes estudos o etilismo apresentou-se com maior prevalência. Entretanto, acreditamos que os 40% de nadadores que relataram fazerem uso de bebida alcoólica devam ser conscientizados da influência que tal hábito tem sobre sua saúde geral e, principalmente, que tal fato pode ser um dos fatores causadores da alta prevalência da CA acima dos padrões de normalidade.
Reforçando o perigo de eventos cardiológicos agudos a figura 4 demonstra que 45,71% dos atletas entrevistados apresentam três ou mais fatores de risco cardiovasculares associados e que apenas 5,71% dos mesmos apresentam nenhum fator de risco. Tais dados são superiores aos levantados em equipes de atletas de futebol amador os quais apresentaram 22,5% de seus atletas com fatores de risco associados.
Assim, o fato supracitado é preocupante, pois, uma vez que, Pollock, Wilmore relatam que existe uma relação direta entre circunferência abdominal e o índice de massa corpórea (IMC) com alteração da PA para índices mais elevados. Já estas variáveis, uma vez controladas, diminuem as chances de um evento cardiológico agudo.
Portanto, estratégias de intervenção devem ser tomadas a fim de se evitar possíveis agravos à saúde destes atletas, tendo em vista que já foi comprovado por diversos estudos anteriores, que quanto maior o número de fatores de risco presentes no indivíduo maior suas chances de sofrer um evento isquêmico coronariano.
Vemos a necessidade de um melhor acompanhamento dos atletas por parte das equipes para que se possam evitar problemas futuros relacionados à sua saúde e integridade física durante as competições. Entre as possíveis estratégias seria interessante que fosse oferecido aos atletas uma estrutura a qual pudessem realizar avaliações clínicas e físicas periódicas, além de conscientizá-los da importância de mudança de seus hábitos, principalmente que com exceção da hereditariedade, os demais fatores de riscos levantados são classificados como modificáveis segundo Nieman.
Conclusão
Os nadadores de maratonas aquáticas constituem uma população muito heterogênea, composta de atletas profissionais e de atletas amadores de diversas faixas etárias. Assim como na população geral, estes atletas estão incluídos nas estatísticas para o aparecimento de doenças potencialmente graves, uma vez que apresentem fatores de risco já conhecidos. É necessária uma estratificação destes fatores de risco adequada e uma intervenção na direção da prevenção dos agravos na saúde e do controle de eventos agudos.
Por:
Dra CLÁUDIA COUTINHO